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A fundação

As terras do antigo Raso tiveram origem a partir das terras desmembradas da Casa da Ponte, morgado dos Guedes de Brito. Antes da cidade de Araci ser povoada por José Ferreira de Carvalho, em 1812, aqui já era caminho das boiadas que iam em direção a Jacobina e Piauí.

A região hoje conhecida como Sisal era antigamente identificada como Sertão dos Tocós ou Pindá, uma denominação dada pelos bandeirantes que exploraram a área e encontraram tribos indígenas como os Tapuias, Cariris, Tocós e Beritingas. Com o tempo, essas tribos foram gradualmente dizimadas.

José Ferreira de Carvalho adquiriu 20 léguas de terras quadradas por meio do procurador da Casa da Ponte, Paulo Rabelo. Até então, a área era uma vasta caatinga, habitada por diversos animais selvagens e, possivelmente, alguns vaqueiros remanescentes do trânsito das boiadas.

Antes de se estabelecer nas terras recém-adquiridas, José Ferreira de Carvalho residia na Fazenda Serra Grande, no município de Serrinha. Nascido em 1783, ele era filho de Manoel Ferreira Santiago e Maria da Conceição, e casado com Maria do Rosário do Espírito Santo. O casal teve os seguintes filhos: Severo Fabiano de Carvalho, Ludovico Antunes de Carvalho, Rita Constantina de Oliveira, Antônia Francisca do Espírito Santo, Ângelo Fabiano de Carvalho, Francisca Rosa de Lima, Maria Fidélis de Lima, Carlota Ferreira de Lima e Antônio Martins Ferreira.

José Ferreira de Carvalho faleceu em 1866. Seu corpo, assim como os de sua esposa e filhos, foi sepultado na Igreja Matriz, que mais tarde foi demolida para dar lugar ao atual jardim da praça. Grande parte da população de Araci é descendente do seu fundador.

Primeira igreja de Araci, construida em 1859 e demolida em 1959. 

Construção da Igreja Matriz

Depois de algum tempo já estabelecido nas terras do Raso, José Ferreira de Carvalho, seus filhos e escravos iniciaram a construção de uma Igreja. Essa construção teve a contribuição do Mestre de Obras João Mendengue, vindo de Simão Dias, em Sergipe.

Nesta época, na Fazenda Raso, já existiam algumas poucas casas e já começava a ganhar um aspecto de arraial. A construção da primeira Igreja de Araci foi concluída em 1859 e inaugurada no dia 08 de dezembro do mesmo ano, com missa celebrada pelo Pe. Antônio da Rocha Viana, vigário de Tucano, que ficou responsável também pela nova Capela.

Após a construção da Igreja, utilizando-se ainda dos erviços do mesmo mestre de obras, foi edificado o cemitério da matriz, localizado no inicio do caminho para a Serra do Bonfim, hoje bairro do Município. Existente ainda hoje, é a única obra da época do Fundador e se constitui num patrimônio histórico da cidade que deve ser preservado, pois muitos dos nossos antepassados estão sepultados lá.

Praça da Conceição em 1926

Criação do Distrito do Raso

Com o desenvolvimento e crescimento da localidade, e após a construção da Capela, no ano de 1861 foi criado o Distrito do Raso, que ficaria ligado politico e religiosamente ao Município de Tucano. Com a nova condição, o pequeno arraial passou a ter subdelegado, o qual foi nomeado José Thomé Ferreira.

Documento de criação do distrito do Raso em 1861. Fonte: APEB (Arquivo Publico do Estado da Bahia)

Criação da Freguesia do Raso

Em 12 de abril do ano de 1877, através da Lei Provincial 1.720, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Raso, ficando assim ligada ao termo de Tucano. O primeiro Padre a tomar posse na recém criada Freguesia foi Urbano Cecílio Martins, filho do Professor Antônio Martins Ferreira e neto de José Ferreira de Carvalho.

1ª Emancipação Política

Já bastante desenvolvida em suas diversas atividades econômicas, sociais e políticas, a Freguesia do Raso caminhava para sua inevitável emancipação. Em 13 de dezembro de 1890, o então Governador da Bahia José Gonçalves da Silva desmembra a Freguesia do Raso do Município de Tucano, passando-se a chamar Vila do Raso.

Um dos grandes mobilizadores pela independência do antigo Raso foi o Padre Italiano Júlio Fiorentini, que na época era o vigário local, sendo o mesmo nomeado como Intendente, juntamente com os Membros do Conselho Higino Ferreira da Mota, Francisco Aristides de Carvalho, Virgínio Eloy de Oliveira Lima, Joaquim Alves Pinheiro e José Roque de Oliveira. Era o secretário da Intendência Amerino de Oliveira Lima.

O Padre Fiorentini pouco tempo ficou no cargo de Intendente, pois fora transferido para outra Paróquia, sendo nomeado o Cel. Vicente Ferreira da Silva e posteriormente Ângelo Pastor Ferreira. Somente em 18 de dezembro de 1893 foi realizada a primeira eleição para Intendente, sendo eleito o Cel. Antônio Ferreira da Mota.

Um pouco sobre o Padre Júlio Fiorentini:

O Pe. Júlio Fiorentini (1850-1924) chegou em Araci no ano de 1888 para ser o vigário da então Freguesia do Raso, assumindo a vaga deixada pelo Pe. João Torgues. De origem italiana, o Pe. Júlio ficou à frente da Freguesia até o ano de 1891. Conforme consta no livro “História de Araci”, de Maura Mota, foi uma das pessoas mais importantes para emancipação política local, que deixou de pertencer ao município de Tucano em 1890. Por conta de seu forte envolvimento no processo de emancipação, foi o primeiro Intendente (cargo que equivale hoje ao de prefeito) da recém instaurada Vila do Raso. Ficou no cargo pouco tempo, pois foi transferido para outra paróquia. O Padre Fiorentini era muito polêmico em relação às suas posições políticas, inclusive foi colocado pelo Arcebispo da época para ficar à frente da freguesia do Raso, justamente para se afastar do foco político ao qual estava envolvido no recôncavo baiano, e estando assim no sertão, longe das grandes movimentações políticas. Durante o período da guerra de Canudos (1896-1897), foi um ferrenho opositor de Antônio Conselheiro, inclusive fazendo diversas denuncias do mesmo ao Arcebispo da Bahia. Faleceu em 1924 na cidade de Leopoldina, MG.

Documento da primeira emancipação política de Araci em 1890. O original encontra-se no acervo do Museu do Centro Cultural de Araci.

Transcrição do documento da 1ª emancipação política de Araci, assinado em 13 de dezembro de 1890.

1ª Seção – Ato – O governador do Estado resolve pelo presente Ato, elevar a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Raso, desmembrada do Município do Tucano à categoria de Vila com a denominação de Vila do Raso, continuando a fazer parte da comarca da Serrinha. Palácio do Governador do Estado da Bahia. 13 de Dezembro de 1890. (assinado) José Gonçalves da Silva. Conforme: O secretário, Manoel Pedro de Rezende.

Intendentes – Primeiras administrações:

Pe. Júlio Fiorentini  (1890-1890)
Vicente Ferreira da Silva  (1891-1892)
Angelo Pastor Ferreira  (1892-1892)

Primeiros Intendentes eleitos na Vila do Raso:

Antônio Ferreira da Mota  (1893-1896)
José Tomás Barreto  (1896-1899)
João de Moura Barreto  (1900-1903)

Intendentes a partir da mudança do nome da Vila do Raso para Araci:

Antônio de Oliveira Mota  (1904-1907)
Vicente Ferreira da Silva  (1908-1911)
Antônio Ferreira da Mota  (1912-1915)
José Roque de Oliveira  (1916-1917)
Antônio Ferreira da Mota  (1918-1920)
José Verdelino Pinheiro  (1920-1921)
Vicente Ferreira da Silva  (1921-1925)
Esmeraldo Ferreira da Silva  (1926-1930

Mudança do nome para Araci

No dia 1º de janeiro de 1904, tomou posse no cargo de Intendente da Vila do Raso o Tenente Antônio de Oliveira Mota, e no dia 21 de setembro do mesmo ano, através da Lei estadual Nº 575, teve o nome da Vila mudado para Vila de Araci. O nome tem origem indígena e foi retirado do livro Ubirajara, de José de Alencar e significa a mãe da aurora, mãe do dia. Foi nesta mesma gestão que foi construída a Casa da Câmara, que ficou depois conhecida como Prefeitura antiga, e sua inauguração oficial se deu em 1906.

Construção da Capela do Bonfim 

Nosso município é cercado por diversas serras e uma dessas e talvez a mais importante é a Serra de Santa Rita, hoje mais conhecida como Morro do Bonfim. Desde a chegada do Fundador, que a referida serra começou a ser desbravada, elevando-se em 1860 um cruzeiro, que a partir daí passou a ser local de peregrinação dos moradores locais, principalmente durante a Semana Santa. No final do século XIX começou a ser construída uma Capela com recursos angariados entre os cidadãos locais através de uma campanha encabeçada por Amerino de Oliveira Lima e Antônio Oliveira da Mota. No ano de 1897 a Capela foi inaugurada e dedicada ao Senhor do Bonfim. Ainda hoje é caminho e local para as vias-sacras e procissão de fogaréu durante a Quaresma.

FONTES:
Arquivo Público da Bahia (APEB).
LIMA, Maura M. Carvalho. História de Araci.
Laboratório Eugenio Veiga (LEV – UCSAL).
Acervo do Professor Anatólio Oliveira.
Acervo do Centro Cultural de Araci

Texto: Pedro Juarez Pinheiro