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Agência Postal e o primeiro rádio

Para se chegar ao Raso, ou como mais tarde foi denominado, Vila de Araci, a locomoção se dava através de montaria em cavalos, burros ou em carros de bois. A estação de trem mais próxima localizava-se em Serrinha e Salgadália, de onde se ia mais rápido para Alagoinhas e Salvador. As informações demoravam pra chegar à Vila. Os únicos meios de comunicação eram as cartas ou algum jornal esporadicamente trazido por caixeiros viajantes ou por moradores locais quando voltavam de viagens à cidades maiores. As cartas, a partir de 1912, passaram a circular com maior facilidade pelas mãos do primeiro agente postal João Pastor de Oliveira, nomeado para aqui instalar uma Agência Postal.

O Rádio chegaria no ano de 1938, através de iniciativa de alguns aracienses que se juntaram e formaram a Radio Sociedade de Araci. O aparelho, comprado coletivamente, foi instalado no prédio da antiga Prefeitura e todo domingo as famílias se juntavam para ouvir músicas e as notícias do Brasil e do Mundo.

João Pastor Oliveira, primeiro agente postal de Araci, nomeado em 1912
Carta enviada por araciense em 1934 
A Sociedade Filarmônica Juvenil Araciana

No ano de 1906, por iniciativa do então intendente Antônio de Oliveira Mota foi iniciada uma campanha para angariar fundos para comprar diversos instrumentos musicais que formariam a Sociedade Filarmônica Araciana, a qual obteve bastante adesão por parte dos aracienses. No dia 08 de dezembro de 1906, na festa da Padroeira, a filarmônica foi inaugurada. Por ela passaram alguns professores de músicas, os quais contribuíram na formação de alguns músicos locais, como: José, João e Flaviano Mota, que tocavam caixa de guerra; os irmãos João Donato e José Verdelino Pinheiro, que tocavam trombone e soprano; José Bispo dos Santos, que tocava clarineta; Prisco Paraiso de Carvalho e José Jeronimo na trompa e piston, além de diversos outros músicos, como Duduzinho e seu Geminiano Abade. A referida sociedade era formada por uma diretoria e seus respectivos sócios e depois de muitos altos e baixos, no final dos anos 20, encerraram-se suas atividades.

Músicos da Filarmônica Juvenil Araciana em 1928.

Dois periódicos no sertão: Jornal Correio de Notícias e A Troça

O Jornal A troça foi fundado por Antônio de Freitas Bacelar no ano de 1918 na então Vila de Araci. Denominava-se como um “orgão official do rapazio, critico, humorista e chistoso”. A população da Vila não passava de 4 mil habitantes, segundo consta o censo do Brazil para o ano de 1918. Em seu conteúdo, liam-se crônicas, fábulas, comentários sobre personalidades locais e regionais, informações sobre viajantes, anedotas, obituário e principalmente muitas propagandas.

Seu editor e fundador Antônio de Freitas era filho do comerciante e fazendeiro Leobino de Freitas Bacelar, oriundos da cidade de Irará. Chegaram à Vila de Araci no inicio do século XX e se estabeleceram desenvolvendo atividades agrícolas, pecuárias e comerciais. Leobino era dono de uma loja chamada Veneza, que vendia todo tipo de miudezas, fazendas, calçados, louças, remédios, artigos para presentes, produtos agrícolas e secos e molhados. Localizava-se na esquina da Rua Barão de Jeremoabo com a Praça da Conceição, conforme pode se verificar em uma das propagandas no periódico.

Edição do A Troça. 1919

Na mesma época em que circulou o A Troça, existia outro jornal, intitulado Correio de Noticias, de propriedade do Professor José Ferreira da Cunha e Silva, que sendo nomeado professor público no ano de 1915, nesta Vila, trouxe do Município de Taperoá, local de sua última residência, todo um maquinário e fundou uma tipografia, que se localizava na Praça da Conceição. Nesta pioneira tipografia também foi possível rodar as edições do A Troça.

O Professor Cunha possuía grande influência e boas relações no Recôncavo e Capital da Bahia, onde constantemente transitava e trazia informações para serem publicadas em seu jornal. O Correio de Noticias veiculava em suas páginas noticias sobre a política nacional, estadual e eventualmente, a local. Era correligionário político de J. J. Seabra, o qual constantemente era elogiado em seu Jornal.

Essa sua adesão política o fizera ter bastantes inimigos na Bahia, conforme podemos constatar em um dos artigos publicados na edição de Nº 280, de 20 de março de 1920, com o título de Política de Bacamarte, onde denunciava uma tentativa de agressão física e destruição da redação do seu jornal por opositores de J.J. Seabra. Sobre a política local, se declarava independente, vez outra fazendo algumas críticas na seção Palpites à administração dos Intendentes da época. O Correio de Noticias circulou em Araci até o ano de 1923, quando seu proprietário, o professor Cunha, foi transferido para ensinar na cidade de Nazareh, e daqui levou para lá o periódico. O maquinário tipográfico foi vendido para o Jornal O Serrinhense, editado em Serrinha.

Edição do Correio de Noticias. 1920

FONTES:
Instituto Geográfico Histórico da Bahia (IGHB)
LIMA, Maura M. Carvalho. História de Araci.
Biblioteca Nacional – Setor de Obras Raras
Acervo do Centro Cultural de Araci

Texto: Pedro Juarez Pinheiro